Canção da Noite sem Aurora
(Marcos Paulo Souza)
A noite é fria, muito fria,
É fria e triste... A voz do vento
É cheia de melancolia.
Gris, lacrimeja o firmamento.
Que noite! É o Horto da Agonia!
De longe vem, fugaz e fino,
O olor de um cravo... O frio corta,
No alto da curva do destino
A lua beija a noite morta...
Na voz do vento dobra um sino...
E enquanto o vento plange fora
E acorda o ninho um calefrio,
Dentro da noite sem aurora
Tu jazes frio, frio, frio...
Meu coração, sangrando, chora!
Em funda paz dorme a cidade,
Fechadas portas e janelas,
Da lua à tênue claridade
Rolam as folhas amarelas.
E eu penso em ti com que saudade
Branqueia ao longe o cemitério
- Feral jardim de cruzes pretas
Onde não se ouve um riso etéreo,
Onde não brincam borboletas...
Chora o luar... Que céu funéreo!
Não se pranteou de um sino o dobre
No escárneo dessa tarde de ouro,
Nem jaspe o mármore recobre
O teu esquife de anjo louro.
Só flores, só, triste, pobre!
Mas na urna estreita que te encerra,
Não estás só! Toda ternura,
Minh’alma que entre sombras erra,
Vai-te embalar em noite escura,
Vai-te aquecer dentro da terra!
Da sorte o sopro álgido e tredo
Gelou-te as mãos, fechou-te os olhos,
Teu berço, azul como um segredo
De amor, partiu-se em mar de escolhos.
Antes de um ano! Era tão cedo!
E eras tão belo! E eras tão forte!
E já sabias rir, contente,
Abrindo os braços num transporte
Para cingir-me docemente!
E suportaste a dor da morte!
Que graça, tinhas! Com que encanto
Gestos fazia a mão querida!
Eu te adorava tanto, tanto!
Eras o enlevo desta vida.
Que naufragou num mar de pranto!
Em vez do tépido conforto
De um seio e do calor materno,
Tens hoje, no silêncio do Horto,
As frias lágrimas do inverno!
E para todo o sempre és morto!
Mas, num altar onde a alvorada
Não luz, por ti, que és mudo, exangue,
Sempre há de arder, da dor brotada,
Sempre! Uma lágrima de sangue,
Como uma lâmpada sagrada.
(Marcos Paulo Souza)
A noite é fria, muito fria,
É fria e triste... A voz do vento
É cheia de melancolia.
Gris, lacrimeja o firmamento.
Que noite! É o Horto da Agonia!
De longe vem, fugaz e fino,
O olor de um cravo... O frio corta,
No alto da curva do destino
A lua beija a noite morta...
Na voz do vento dobra um sino...
E enquanto o vento plange fora
E acorda o ninho um calefrio,
Dentro da noite sem aurora
Tu jazes frio, frio, frio...
Meu coração, sangrando, chora!
Em funda paz dorme a cidade,
Fechadas portas e janelas,
Da lua à tênue claridade
Rolam as folhas amarelas.
E eu penso em ti com que saudade
Branqueia ao longe o cemitério
- Feral jardim de cruzes pretas
Onde não se ouve um riso etéreo,
Onde não brincam borboletas...
Chora o luar... Que céu funéreo!
Não se pranteou de um sino o dobre
No escárneo dessa tarde de ouro,
Nem jaspe o mármore recobre
O teu esquife de anjo louro.
Só flores, só, triste, pobre!
Mas na urna estreita que te encerra,
Não estás só! Toda ternura,
Minh’alma que entre sombras erra,
Vai-te embalar em noite escura,
Vai-te aquecer dentro da terra!
Da sorte o sopro álgido e tredo
Gelou-te as mãos, fechou-te os olhos,
Teu berço, azul como um segredo
De amor, partiu-se em mar de escolhos.
Antes de um ano! Era tão cedo!
E eras tão belo! E eras tão forte!
E já sabias rir, contente,
Abrindo os braços num transporte
Para cingir-me docemente!
E suportaste a dor da morte!
Que graça, tinhas! Com que encanto
Gestos fazia a mão querida!
Eu te adorava tanto, tanto!
Eras o enlevo desta vida.
Que naufragou num mar de pranto!
Em vez do tépido conforto
De um seio e do calor materno,
Tens hoje, no silêncio do Horto,
As frias lágrimas do inverno!
E para todo o sempre és morto!
Mas, num altar onde a alvorada
Não luz, por ti, que és mudo, exangue,
Sempre há de arder, da dor brotada,
Sempre! Uma lágrima de sangue,
Como uma lâmpada sagrada.
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