segunda-feira, 5 de outubro de 2009

POESIA DECLAMADA VENCEDORA DA CATEGORIA II


O Espelho

O pequenino espelho que me deste
E que aceitei com júbilo inefável,
É um claro aberto para o azul celeste
De um tempo de ventura inenarrável!

Fora da luz, na solidão da cela,
Onde a minha saudade reina agora,
O espelho d’oiro é a única janela
Por onde vejo o rosicler da arurora...

- Janela oval, minúscula, radiante,
Onde, como a águia no alcantil dos montes,
Minha alma se debruça, palpitante,
Para a glória dos vastos horizontes!

Espelho amado! Em sua faze clara
Como a da fonte que espelhou Narciso,
Senti, numa hora de doçura rara,
Reproduzir-se todo o Paraíso!

Lembras-te? As frontes uma vez unimos
Para nos vermos nele retratados:
- E entre afagos, sorrisos, beijos, mimos,
Dentro do céu ficamos enlaçados...

Desde essa tarde tua imagem bela,
Transfigurada de íntima alegria,
Resplandece no fundo da aquarela,
Da preciosa aquarela que irradia...

Mas nem sempre rutila o sol de outubro,
Mas nem sempre a alvorada é cor de rosa,
Por isso, às vezes, no cristal descubro
A sombra de uma lágrima penosa...

É quando, à noite, cheio de tristeza,
Miro no espelho os vincos do meu rosto:
- Diante desta alma de amargura presa,
Todo o espelho se esfuma de desgosto!

Não choro só, não é só minha a mágoa!
Sensível como criatura humana,
Vendo os meus olhos marejados de água,
Ele também de lágrimas se empana!

E do hialino céu em miniatura,
- Cristalizada e fria claridade, -
Desaparece a diáfana brancura,
Sob a névoa cinzenta da saudade...

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